segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Adeus ao Roteiro


Assistindo ao primeiro corte do material editado de “Os Tubarões de Copacabana”, de 1hora e 25 minutos de duração (faltam aproximadamente 30 minutos que ainda não foram filmados) senti novamente àquela sensação de embriaguez indescritível, de contemplar a transformação do roteiro escrito em filme. De ver personagens idealizadas em rascunhos no papel, criar vida. Feitiço de uma transposição que nunca mais será possível reverter, porque os atores, numa espécie de metamorfose mágica, lograram construir seres novos, um mundo totalmente novo. E lembrei as palavras do mestre Jean-Claude Carrière, no seu livro “A linguagem secreta do cinema”- “Na verdade, um bom roteiro é aquele que dá origem a um bom filme. Uma vez que o filme esteja pronto, o roteiro no mais existe”- De fato as personagens que imaginei desapareceram, para dar vida a outros seres, quase humanos. As que ficaram mais parecidas com meus esboços, foram àquelas personagens que escrevi para atores já definidos, como no caso de Alex Teix, Guil Silveira e Cecília Lage, amigos e parceiros de outras produções. Nesses casos específicos, enquanto escrevia, eu pensava neles falando e interpretando, o que facilitou muito meu trabalho. Mas no caso do protagonista, a escolha de Raul Gazolla foi posterior à criação do roteiro e decisiva para a realização do filme. Atualmente não consigo imaginar nenhum outro ator interpretando o surfista Nando. Raul tem talento e simpatia de sobra e converteu as longas horas no set de filmagem numa reunião entre amigos. Está chegando a hora de dizer adeus ao roteiro, já que o filme está terminando de nascer e ambos não podem co-existir. Porque como disse Carrière, “O roteiro não é o último estágio de um percurso literário. É o primeiro estágio de um filme”.Rosário Boyer roteirista e diretora